sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Cozinhar e viver

Fiquei pensando nesses últimos 20 dias de internação do meu pai, sobre um hábito que tenho nessas tristes ocasiões: ir para o fogão freneticamente e cozinhar muito. Isso já aconteceu em todas vezes que minha mãe estava hospitalizada e lembrei que, na época, fazia muitos pratos, bem elaborados, com receitas muitas vezes criativas e nunca realizadas em casa. Eu tenho me dividido entre casa e hospital, e não deixo faltar uma refeição sequer em casa. A pior parte ainda são as compras do supermercado pois, essa tarefa eu abomino. Já fiz bacalhau com grão de bico e leite de côco, Saint Peter com alcaparras e lasanha de beringela. Fui buscar no silêncio da cozinha uma explicação prá tudo isso. Descobri que a bruxa precisa do som do fogão em plena atividade, do mexer das colheres em grandes panelas criando uma espiral de significado de vida e sabor. Embora falte um membro da família na casa, a casa precisa existir. Preciso da energia de Héstia/Vesta  abençoando e dando sentido ao dia a dia de todos nós em casa. Cada tempero eleito, cada ingrediente fatiado, cada panela escolhida, faz a roda da vida girar naturalmente e a vida entra no eixo mais uma vez. Descobri essas sensações hoje, quando estava mergulhada no aroma do molho repleto de coisas gostosas. Enquanto a fumaça saia da panela, banhava minha imaginação e fui tendo essas nítidas sensações de prazer em cozinhar. É gostoso ver a alquimia acontecer com o alimento, a transformação do cru em cozido, já que, na vida cotidiana as soluções para as dores encaram um ritmo bem mais lento.
Com a comida pronta e saboreada, a dor é apaziguada, mesmo que momentaneamente. Fica a sensação de um carinho de mãe no estômago da gente. Descobri que agora é preciso, mais do que nunca, cozinhar e cozinhar com amor, usando a panela como um campo a ser cultivado de boas energias e muita magia. A magia é prá transformar a dor em esperança, o sabor amargo da luta em vislumbre de vitória, e buscar saúde prô corpo, que precisa estar forte prá mexer muita panela. Lembro que meu pai sempre me dizia em tom de conselho: "é preciso comer para viver e não viver para comer", hoje eu diria à ele: "é preciso cozinhar prá viver"!

Boa tarde casa viva. Bençãos de Héstia!