quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O cru e o cozido - morre o antropólogo Claude Lèvi-Strauss


Em 30 de outubro de 2009 o mundo perdeu um dos maiores pensadores e pai da antropologia estruturalista, Claude Lèvi-Strauss. Segue abaixo um texto bastante coerente com esse blog, escrito pelo sociólogo Carlos Alberto Dória sobre um dos livros de Lèvi-Strauss, " O Cru e o Cozido", responsável por permear e guiar minha vontade de estudar e pensar mais sobre a c
omida e a cultura.


Um homem que morre aos 100 anos já não é qualquer pessoa. Principalmente se ele acha que, assim como o mundo começou sem o ser humano, vai terminar sem ele. É uma ideia que dá à existência uma dimensão meteórica. E a vida de Lévi-Strauss vale por onde ele passou e pelo que nos é dado ver da sua luminosidade.

Quando chegou ao Brasil para lecionar na USP, em 1935, São Paulo era uma província. Agora, quando morre, é um país que tem profundo débito com seu pensamento. Ainda hoje estamos lendo Lévi-Strauss com uma frequência já rara no mundo. Uma das leituras que apreciamos é a sua relação com a alimentação, especialmente a partir do seu livro O Cru e o Cozido (1964).

O livro não é uma monografia sobre alimentação. Em compensação, estudando os mitos dos nossos índios, se deu conta de uma coisa fundamental: a cozinha é aquela atividade que converte a natureza em cultura; é a metáfora mais pertinente da cultura. O homem, atado às coisas da natureza é, ele mesmo, natureza. Quando a transforma através do fogo, submete a natureza imediata ao seu projeto e a transforma em cultura. E passa a depender desse trabalho: ele troca a "vida longa" pela "vida breve".

Mas a libertação diante das leis naturais é algo fugidio. As coisas "cruas", naturais, são transformadas em coisas "cozidas", culturais, para de novo voltarem à natureza sob a forma de "podres". As relações cru/cozido/podre ele chamou de "triângulo culinário". Essa metáfora da cultura é universal: os povos do mundo todo possuem suas versões particulares do "triângulo culinário".

O curioso é que Lévi-Strauss jamais poderia imaginar que essa imagem tão abstrata fosse, algum dia, servir a cozinheiros que estão com a "mão na massa". É conhecida a transposição do "triângulo" que Alex Atala faz para o terreno do gosto, criando quatro pontos cardeais.

Alex opôs ao cru (natural) o cozido (doce), e ao tostado (amargo) o podre (o azedo do fermentado). Para ele, cozinhar é dispor os produtos, gustativamente, numa longa linha que vai do cru ao cozido; mas os alimentos podem "escapar" e voltar para a natureza se estiverem muito tostados (queimados) ou a fermentação gere um "podre" impossível de se comer. Assim, o cozinheiro "equilibra" o produto entre os quatro pontos cardeais de forma a ser agradável.

Por acaso este não é um bom "mito" sobre o papel da cozinha moderna? Mas o raciocínio jamais seria subscrito por Lévi-Strauss. Por outro lado, ao estudar a função dos mitos, ele concluiu que eles apenas "são bons para pensar". Eles ajudam a organizar o mundo e nada mais. E não foi isso que se fez, ao se vincular sua obra às necessidades da cozinha moderna "se pensar"? Lévi-Strauss nos deixa no momento em que, abusando de sua obra, passamos a considerá-la muito mais saborosa.

*Carlos Alberto Dória é sociólogo

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos+paladar,o-antropologo-da-cozinha,3376,0.shtm

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Jantar às escuras!

Uma nova modalidade de degustação de alimentos tornou-se moda em São Paulo: o chamado "jantar às escuras". O que já vem sendo praticado ao redor do mundo, agora pode ser desfrutado em alguns restaurantes de São Paulo. A idéia é comer de olhos vendados para ressaltar todos os sentidos em torno da mesa e dos pratos que são servidos. Ao comer sempre damos mais importância ao aspecto visual da comida, é esse sentido que está em primeira instância nos avisando sobre o que vamos ingerir e com isso, relegamos a segundo plano todos os outros sentidos. Parece uma brincadeira gostosa e sadia. Perceber sabores sem poder enxergar estimula nosso olfato e até mesmo a audição entra em alerta. Descobrir texturas, sabores, temperaturas e adivinhar o que está em nossa boca. Ao redor da mesa as pessoas naturalmente tateam em busca de talheres, pratos ou até mesmo levam o alimento com as mãos à boca. Alguns relatos de participantes mostram que a interação dos pessoas é mais evidente, pois sem a visão parece mais necessária a conversa, para que todos troquem experiências e expectativas sensoriais. Esse conceito foi criado na Suiça em 1999 com objetivo de sensibilizar as pessoas sobre os desafios vividos pelos deficientes visuais. Tal modelo foi usado em outros países europeus e virou moda, o que o transformou num evento de luxo e de preços nada acessíveis. Fico imaginando a magia de tal prática: que tal um jantarzinho intímo com seu parceiro? Parece algo bastante estimulante e rico em sensualidade. Essa idéia me lembrou do filme Sem Reservas, onde Catherina Zetta Jones foi exposta a essa deliciosa tarefa. Eu ainda acredito na ética comensal e não expor nossos amigos em torno de comidas que não sejam 100% aprovadas por eles. Nada de servir carne para vegetarianos. Vamos praticar?

Tudo sem ver absolutamente nada!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Paixão por Cupuaçú

Desde que conheci esse ícone dentre as frutas da região norte do Brasil me apaixonei intensamente. Sempre fui um tanto avessa a provar novos sabores mas, graças aos deuses venci esse saboroso desafio com relação ao cupuaçú. Quem gosta, ama... quem não gosta, não tolera. Não há meio termo em torno do sabor dessa fruta genuinamente tropical, assim como o açaí. Estava em Manaus quando provei o suco, o sorvete, o doce, a geléia, o bombom, o licor e tudo que era feito com cupuaçú e seu sabor ácido. Aos poucos a fruta foi ganhando destaque nas outras regiões do Brasil e hoje é comum encontrar sua polpa em qualquer supermercado. Vencemos o desafio e os japoneses não puderam pantentear o nome cupuaçú, assim como queriam. Foram 5 anos de brigas, com o esforço de Ongs e do governo. O nome cupuaçú tem seu uso entre os índios brasileiros e peruanos e sua versatilidade no uso culinário é imensa. Ele tem um parentesco muito próximo com o cacau e pesquisadores vem desenvolvendo um produto chamado de Cupulate, algo como um chocolate a base de cupuaçú, bem mais nutritivo e barato em relação ao cacau. Além da vantagem econômica, o "chocolate" de cupuaçu também é mais saudável. Segundo as pesquisas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, essa fruta tem alto teor de teobromina, substância com efeitos estimulantes iguais ao da cafeína, bem menores que os do cacau. A diferença entre os teores das duas frutas gira em torno de 85%.
Além de seu uso culinário, a gordura extraída das sementes é usada na indústria coméstica em larga escala. A Natura por exemplo, tem uma linha de sabonetes, cremes hidratantes, óleos corporais e outros produtos a base de cupuaçú. Sua propriedade emoliente é perfeita para ser aplicado como hidrantante e o charme fica por conta do seu suave aroma.

Curiosidades sobre o cupuaçú:
    Uso tradicional
    Povos indígenas assim como comunidades locais ao longo do Amazonas cultivaram Cupuaçu como uma fonte primária de alimento desde gerações. Nos tempos antigos, sementes de Cupuaçu foram negociadas ao longo do Rio Negro e Orinoco onde o suco de Cupuaçu, depois de ser abençoado por um pajé foi utilizado para facilitar nascimentos difíceis. O povo Tikuna utiliza as sementes do Cupuaçu para dores abdominais.

    Fonte: www.amazonlink.org/biopirataria/cupuacu.htm

    A árvore chamada de cupuaçuzeiro atinge uma média de 10 a 15 m de altura. As folhas são longas, medindo até 60 cm de comprimento. As flores são grandes, de cor vermelho escura, com características peculiares: são as maiores do gênero, não crescem grudadas no tronco, mas sim nos galhos. O frutos surgem de janeiro a maio. Contém vitaminas, minerais e pectina, uma fibra solúvel que ajuda a manter os bons níveis de colesterol.

    Fonte: Patrícia Lopes - Equipe Brasil Escola
    www.brasilescola.com/frutas/cupuacu.htm

domingo, 6 de setembro de 2009

Magia da diversidade tropical

A diversidade de alimentos nas regiões tropicais ainda é pouco conhecida e está ameaçada, portanto se faz necessário que sejam preservadas, pesquisadas e bem empregadas. Grande parte do que ingerimos tem origem nessas áreas como, por exemplo, banana, trigo, milho, cacau, ervas, abacaxi, gengibre, mandioca, batata, abóbora, cana-de-açucar, dentre tantos outros. Com o uso correto, visando sustentabilidade, a nossa culinária pode ser mais rica. Muitas pesquisas tem evidenciado o poder curativo de plantas desconhecidas na culinária cotidiana, e até mesmo desprezadas pelas culinárias regionais. Muitas espécies selvagens, daquelas que consumimos, representam um grande banco genético para melhoramento das espécies, provendo maiores fontes de nutrientes e cura de doenças.

Magicamente falando, temos uma riqueza inigualável em nossas terras tropicais que muitas vezes nem nos damos conta. A bibliografia que consultamos, na grande maioria traduzida do idioma inglês, trata do uso de ervas, resinas e incensos empregados no nosso cotidiano ritualístico e não encontrados por aqui, além de terem sua origem do outro lado do hemisfério. Fico pensando por exemplo, na dificuldade que deflagramos para encontrar sangue de dragão. Há quem encomende, aguarde um tempo desconhecido para a chegada e ainda pague altas quantias por uma pequena quantidade da resina.

O sangue de dragão é uma borracha resinosa proveniente do fruto do Rotang, uma palmeira trepadeira encontrado na India. Seu uso mágico é o de um poderoso catalisador muito usado em magia de purificação e proteção. Geralmente é usado como tintura com uma coloração vermelho
acentuado bastante característica. Fico pensando também nas famosas bolotas de carvalho, algo praticamente impossível de encontrar no nosso país. Para quem, assim como eu, nunca viu uma bolota de carvalho, segue um link interessante:
www.br.olhares.com/bolotas_de_carvalho_foto2325778.html

A partir daí não é difícil imaginar que podemos fazer associações e uso da diversidade tropical que desfrutamos. No caso específico do sangue dragão, imediatamente penso no aç
aí, fruto proveniente da região norte do Brasil, e difuso por todas partes do país. O açaizeiro é muito semelhante à palmeira juçara encontrada na mata atlântica. Sua coloração vermelha indica semelhança com o sangue de dragão e seu uso mágico pode ser o mesmo. O ideal é sempre testarmos, avaliarmos essas substuições e poder compartilhar dentre as comunidades neo pagãs.Quem sabe não obteremos resultados positivos.



sábado, 8 de agosto de 2009

Açúcar e Afeto!


Com Acúcar, Com Afeto
Chico Buarque

Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é um operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê!
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê!
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê!
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer?
Qual o quê!
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você.

Sempre gostei dessa música, aliás sempre gostei do Chico. Mas essa canção soava com sabor nos meus ouvidos e tempos atrás imaginei que se um dia eu trabalhasse com comida, esse seria o nome: Açúcar e Afeto. Cheguei a sugerí-lo para um amigo que vai iniciar no ramo gastronomia.

Comida, afeto, açúcar e magia parece estar tudo interligado aos meus sentidos. Esses dias lembrei de uma amiga que demonstrava seu carinho e amizade por mim através de guloseimas. Todos meus amigos sabem que adoro comer, mas prá ela, só a comida seria capaz de apazigar a dor ou a tristeza.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Dica de leitura !

Depois de terminar "A Senhora das Especiarias" estou sentindo muita falta da personagem Tilo e seus aromas, suas histórias e segredos. Eu recomendo, impossível não gostar desse livro.

Agora estou recomeçando a ler o livro que comprei no dia do lançamento na Cultura aqui de S.P.. Embora não tenha conseguido o autógrafo, ganhei um sorrisão quando ele passou por mim, lindo, cheio de estilo, rumo ao salão onde faria sua palestra. Segue a dica:

"Em Aguas Profundas", Criatividade e Meditação - David Lynch
Tradução: Márcia Frazão, Editora Gryphus

SINOPSE


Neste livro, uma mistura de autobiografia, história do cinema, ensaio espiritual e manual de meditação, o célebre diretor David Lynch conta como a prática da Meditação Transcendental mudou a sua vida, além de revelar como ela o ajuda a concentrar energias, estimulando sua criatividade e consciência. Um relato de experiências entremeado de histórias jamais reveladas sobre a produção de suas obras-primas cinematográficas. "Em Águas Profundas" é uma leitura imperdível, não só para fãs do cinema de David Lynch, mas também para todos que desejam melhorar a sua própria condição mental, através do desenvolvimento da criatividade e da capacidade de concentração.


Imagens: http://resenhacultural.files.wordpress.com
http://www.travessa.com.br

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Livro das Sombras, caderno de receitas ou ambos?

Estava pensando ainda no tema sobre os livros de receitas. No mesmo instante lembrei dos nossos B.O.S. (Book of Shadows - Livro das Sombras) que toda bruxa tem orgulho em ter um. Não tão sofisticado e bonito quanto os famosos livros de receitas das livrarias, mas fazemos de tudo prá caprichar na capa, no colorido e na letra quando escrevemos nossos encantamentos, rituais ou qualquer outra coisa. Eles são secretos porque só dizem respeito à nós bruxas e bruxos ou aos grupos, denominados covens. São diários contendo nossos melhores esforços de colocar em prática tudo que aprendemos durante nossa caminhada sacerdotal, nossos erros e acertos mágicos, nossa leitura pessoal do mundo, das pessoas e quiçá dos deuses. Devem ser guardados com todo carinho e respeito e passados através das gerações dentre as Tradições Pagãs, como fonte de consulta e aprendizado. Quando reflito sobre essa e outras finalidades do B.O.S., imediatamente o associo com os livros de receitas de nossas mães, avós ou tias que são passados através dos tempos dentre as gerações, como se cada ingrediente, cada receita fosse tão mágica quanto qualquer encantamento de uma bruxa. É como se cada núcleo familiar, na sua maioria feminino, fosse dententor de mistérios culinários que envolvem rituais, magia e muito sabor. Não há como negar que a grande maioria das moçoilas recebem num determinado momento da vida, algumas receitas de família, ou na forma de um rito de passagem silencioso ou até mesmo porque elaboram seu próprio caderno de receitas. Comigo foi um misto das duas coisas. Quando tinha vinte e poucos anos ganhei de presente da mãe de uma amiga, a Leila, um caderno que ela iniciara com muitas receitas de doces e salgados. Na maioria essas receitas faziam parte do seu repertório familiar e outras foram adquiridas pelo tempo, através das amigas. Gostei muito da idéia. Tratava-se de um livro de capa dura, recheado de fotos recortadas de revistas, com imagens que davam água na boca. A iniciativa da amiga Leila propiciou que eu continuasse a preencher aquelas inúmeras páginas em branco, num exercício de completar aquele caderno com as receitas que foram elaboradas e realizadas pela minha mãe. Não era pouca coisa. Minha mãe nunca foi uma glutona, mas sempre decidiu que comer bem era essencial em nossa casa. Para ela, com pouquíssima informação sobre a diferença de um alimento protéico ou apenas calórico, o essencial era estarmos satisfeitos frente à mesa farta em nossa casa. Até hoje, ela acredita que estar saudável e alimentado só depois da sobremesa ou uma imensa barra de chocolate. "Alimento é aquele que traz alegria, prazer e com certeza, engorda. Gente magra não pode ter força suficiente para a vida". Essa sempre foi e ainda é, a filosofia culinária predominante da Dona Glorinha. Há muitas mães assim e muitos filhos, assim como eu, que se beneficiaram com esse postulado gastronômico, sem conhecer o triste resultado disso tudo. Eu, só agora que passei dos quarenta que compreendi a necessidade da reeducação alimentar e no pensar sobre a comida de forma diferente, buscando saúde e prazer. A cada novo prato que ela elaborava era como se estivesse fazendo um carinho em mim e no meu pai, seus fiéis escudeiros na hora da mesa. É como se entre nós três, fosse gerada uma cumplicidade através do paladar. Ela fazia de tudo para aliar seu conhecimento da cozinha da juventude em Minas Gerais, com o que as amigas ou as revistas ensinavam. A novidade era sempre mais prazeirosa prá ela. Quando dava certo e era aprovada por mim e por meu pai, tornava-se tradição e definitivamente incorporava o seu caderno de receitas. Quando eu fui selecionar as receitas para o meu caderno não tinha noção da quantidade de material que eu tinha disponível na minha memória. O creme branco com suspiro em cima, o bolo de sorvete, o tradicional pudim de leite, o manjar branco, o velho bolo de cenouras e tantas outras delícias que ela fazia. Juntei algumas receitas novas que hoje, já são tradicionais prá mim também. Voltando a pensar na minha mãe, fico imaginando que padrões ela buscava quando manipulava uma fórmula alquímica e culinária naquelas páginas. O que ela tentava transformar nela mesma ou em nós? Por que ela tinha tanta necessidade de manipular mais o açúcar em detrimento dos pratos salgados? Que valores culinários ela trazia da sua mãe, avó ou família em geral? Imaginei que investigar essas questões seria um delicioso exercício para uma bruxa ou qualquer outra pessoa, envolta nos prazeres da magia e da mesa. O quanto podemos descobrir sobre nossos antepassados, sua cultura culinária até chegarmos aos nososs dias. Por isso associo o velho e bom livro de receitas de família com o B.O.S. das feiticeiras. A magia dos sabores em receitas que foram aferidas atentamente por mãos que traziam mais que ingredientes: carregavam afeto e a melhor parte delas, que era expressa em bolos, tortas, pudins ou até mesmo numa simples refeição. Não importa a sofisticação e sim o empenho com que essas mulheres, bruxas ou não, sempre usaram da magia culinária prá nos amar.

Dona Glorinha, minha mãe.
Foto: Aglaia Madora

Imagens: www.google.com/images

sábado, 25 de julho de 2009

A magia das receitas culinárias

São inúmeros os livros de receitas disponíveis nas livrarias. A preocupação de editoras com títulos convidativos, impressões de alta qualidade, imagens que saltam aos olhos do nosso paladar sempre com o objetivo das vendas. São edições para todos gostos. Da união das palavras culinária e magia digitadas no Google é possível encontrar centenas de sites que correlacionam a arte de um , à arte do outro verbete. Não há diferença no requinte do sabor às características mágicas que trazem encanto ao prato. Dessa maneira entedemos magia como, aquilo que está fora do cotidiano, que confere um poder extraordinário ao prato, que propicia poderes extra sensoriais vindos da receita até a boca. Não há como ignorar a riqueza e variedade das receitas, suas sutilezas ou sofisticação. Da sinergia entre culinária e magia é que nascem alguns segredos presentes nas páginas dos livros de receitas. O resultado final muitas vezes é o inesperado. Seguir à risca a receita de um livro como se fosse uma fórmula mágica ou até mesmo química não é garantia de sucesso. São inúmeras as variáveis presentes na cozinha e nas mãos de quem manipula os artefatos e alimentos. Consideramos diferenças desde as emoções ao tipo de utensílios usados, indo até a temperatura do fogão à fase lunar. Portanto, um bom livro de receitas não é garantia de êxito culinário. A comprovação disso é que, uma receita retirada do mesmo livro e elaborada por duas pessoas diferentes em locais diferentes, resultará em sabores e aparência diferentes. As receitas servem como guias, uma fonte de inspiração e diretriz na hora da escolha do menu mas, a magia culinária é única, um poder pessoal e intransferível. O jeito é ir testando e se deliciando!

Imagem: www.google.com/images

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O que entra e o que saí pela boca

Tudo tem sua importância reservada: o que entra e o que saí de nossas bocas. É do reflexo daquilo que comemos, de como nos nutrimos que pulsam nossas emoções através da fala. Tudo está interligado em nosso corpo e no nosso campo emocional. Estar ansiosa com certeza para muitas pessoas significa comer algumas gordurinhas a mais. Para nós mulheres o período que antecede nosso ciclo menstrual e toda alteração hormonal em decorrência dele, pode nos levar a consumir mais açúcar do que o normal. Cada um sofre suas alterações de uma forma diferente e até mesmo bastante padronizada. Eu, especificamente sempre fui muito mais chegada aos doces, chocolates e bobagens calóricas do que às frutas e legumes. Arrependimento puro! O bom é descobrir que nunca é tarde prás mudanças e hábitos alimentares. Passando dos quarenta anos, sinto que meu corpo e minha consciência me cobram mais carinho e atenção com o que entra pela minha boca. Em virtude de alguns momentos coléricos vividos dias atrás, senti muito mal estar vindo do meu fígado. Mal estar que todos nós sabemos quando um órgão tão importante começa a pedir socorro e dizer: "pare de mandar porcaria e me obrigar a trabalhar dobrado. Sou grande mas sou um só!" Fígado não suporta ter que metabolizar nossa raiva, frustração e outras sensações ruins. E claro que, além do padrão emocional que vivenciei, foram algumas barras de chocolate prá dentro da minha boca, um pouco de sanduíches fast food e claro, muito açúcar em forma de doces. O que não me preocupava aos vinte e poucos anos de idade ou não parecia fazer diferença, hoje tem um peso muito maior, primeiramente porque já tenho a consciência do que devo ou não fazer com meu corpo e em segundo porque a idade já começa a cobrar a mudança de comportamento. Foi preciso parar com tudo essa semana. Prestar atenção às minhas emoções. Pedir desculpa ao meu fígado com várias xícaras de chá de hortelã, ajudou um tanto. Pensar no que vou comer daqui prá frente...isso faz uma tremenda diferença. Quanto a raiva, envio ela direto de onde veio. A mim não pertence. Quero sopa com receita de boas risadas prá ajudar a desopilar o fígado. Quero assistir e rir com boas comédias no dvd. Quero falar bobagem e gargalhar das bobagens vindas de alguns amigos, especialistas em ver no mundo um colorido sem igual.

Fiquei pensando nas propriedades do hortelã e em como ele é capaz de me salvar nos momentos piores de indisposição. Bendito Hortelã!

Nome científico: Menta s.p.
Características: planta herbácea perene de porte rasteiro-ascendente, com folhas fortemente enrugadas, crenadas ou denteadas. Existem mais de 25 tipos.
Uso medicinal: estimula o aparelho digestivo, combate prisão de ventre, verminoses e tem também propriedades anestésicas. Pode ser usada em chás ou emplastros, por conta do mentol, com a finalidade de anestesiar picadas de inseto por exemplo. Rica em vitaminas C e A e Cálcio e Ferro.
Características mágicas: planta regida pelo planeta Sol, elemento - Fogo. Purificação, cura, transmutação, proteção.

Imagens: www.google.com/images

domingo, 28 de junho de 2009

Cozinha Mágica e Holística - parte 2

Todos alimentos possuem propriedades terapêuticas que são de duas origens: 
  • Funcionais: alimento funcional é aquele que além de conter as funções básicas nutricionais também traz benefícios metabólicos e fisiológicos. Este conceito leva em conta o potencial de proteção a doenças.
  • Mágicas – Magia é um conjunto de procedimentos simbólicos, ou um sistema de símbolos que se articula além do discurso racional ou da observação empírica. Tem por principal finalidade transformar a realidade em busca de cura e melhorias em geral. No caso de ervas, plantas e hortaliças em geral, cada uma é regida por um determinado planeta que carrega simbolismos e significados mágicos.


Uma dessas características não isenta a função da outra e as duas juntas são muito mais eficazes. Quando cozinhamos ritualisticamente empregamos intenção, concentração e ação. O simples mexer com uma colher de pau pode ser um ato mágico. Podemos criar e visualizar imagens, entoar mantras, cânticos ou orações e criar uma atmosfera de harmonia. Na cozinha podemos manipular as forças da natureza como se estivéssemos em um laboratório praticando a alquimia da vida, transformando elementos e realizando nossos desejos.

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Senhora das Especiarias

Dica de leitura:

Açafrão, pimenta do reino, fava de baunilha, curcuma. Tilo, a narradora de A SENHORA DAS ESPECIARIAS, de Chitra Divakaruni, conhece as propriedades mágicas de cada erva. Para cada cliente que entra em sua loja, em Oakland, ela tem uma receita singular. Tilo consegue ver o que mora no coração das pessoas - seus desejos e esperanças.

A Senhora das Especiarias é uma lenda sobre sonhos e desejos insuspeitos narrada com poesia e magia" (Amy Tan, autora de O Clube da Felicidade e da Sorte)

Tilo nasceu na India e, após um longo ritual, passa a dominar os segredos do bom uso das especiarias. Ela poderá alcançar a imortalidade se, entre outras condições, jamais sucumbir a desejos carnais. Uma mestra precisa esquecer as próprias paixões. Mesmo tendo assumido a forma humana de uma velha, Tilo se surpreende quando o belo Raven entra um dia em seu bazar. Apaixonada, descobre subitamente sua fragilidade.

Com seu texto poético, Chitra Divakaruni impregna de doce magia o cotidiano de uma cidade moderna. Com rara sensibilidade, traça um perfil da comunidade de imigrantes indianos, divididos entre seus valores tradicionais e o sonho americano. Divakaruni vem se destacando rapidamente no cenário da literatura mundial. A SENHORA DAS ESPECIARIAS, vendido para dez países, obteve grande sucesso nos Estados Unidos.

A Senhora das Especiarias
Chitra Divakaruni
Editora Objetiva


quinta-feira, 18 de junho de 2009

Festas Juninas

As tradicionais festas juninas tem sua origem no paganismo e seus cultos agrários. A natureza sempre ofertou um espetáculo de contemplação e beleza, onde todos povos e culturas elegem datas para celebração e agradecimento ao que a terra ofereceu durante todo o ano. Para nós pagãos daqui do hemisfério sul, é época de ritualizar em torno do solstício de inverno e a chegada de uma época de sombras e muito frio quando, concomitantemente as fogueiras das festas juninas são acesas e alguns alimentos específicos e tradicionais estão presentes em grande parte das comemorações no país. O milho é mais presente nas festas juninas por ser o grão mais colhido no Brasil nessa época. São os famosos bolos, curau, pamonha, canjica, pipoca e etc. os mais consumidos nesses festejos. A riqueza do milho é milenar e sua versatilidade gastronômica está presente no cardápio de civilizações pré-colombianas, tão antigas quanto os maias e os astecas.Na região nordeste o calendário de junho abriga uma das mais importantes e esperadas festas do ano. Regado a muita comida e ao som das zabumbas, sanfonas e triângulos, os estados nordestinos investem pesado durante todo o ano e atraem milhões de turistas do país todo. Cada estado oferece suas peculiaridades comensais que valem muito a pena serem desfrutadas. Infelizmente, nada é só festa e diversão. A região mais pobre do país tem sofrido muito com as intensas chuvas e muitos dos municípios foram drasticamente atingidos. O que era precário ficou ainda pior. Parte da população de algumas cidades nordestinas contesta o uso da verba recebida do governo federal, para as festas, alegando que esse dinheiro poderia resolver questões mais urgentes para a população. Claro que se trata de uma discussão a parte mas, tais práticas de desvio de dinheiro são antigas e conhecidas nessa região do país. No sul e sudeste a data é comemorada com as festas juninas ou "arraías" geralmente promovidos pelas Igrejas e suas comunidades e pelas escolas de ensino médio. São barracas que vendem os derivados do milho, fogueiras, brincadeiras e todo espírito da festa está voltado para a importância da roça. Com raras excessões, católicos e cristãos em geral, não se dão conta que estão revivendo e recriando costumes sagrados para os pagãos. Acender a fogueira e honrar a força transformadora do fogo, celebrar a terra e sua grandiosidade, dançar em torno de um mastro com fitas coloridas e evocar a fertilidade encenando casamentos são eventos sagrados ao paganismo. Para nós pagãos, durante o mês de maio no hemisfério norte é celebrado um festival em honra à fertilidade e uma das atividades mais tradicionais, é dançar e traçar o mastro, conhecido como Maypole, que representa a união dos poderes do feminino e masculino, além de pular uma fogueira, com intuito de celebrar e honrar os dons da fertilidade da terra e de cada um dos participantes. Qualquer semelhança entre as festividades não é mera coincidência.

Enquanto isso, aproveitem o melhor das festas juninas... mas, lembre-se! Se beber não dirija!

Quentão de Maracujá (sem alcóol)

- 200 g de açúcar
- cravo, canela à gosto
- 1 pedaço pequeno de gengibre
- 2 maracujás grandes
- 1 rodela de limão

Queime o açúcar como uma calda e acrescente o cravo, canela e o gengibre. Bata os maracujás no liquidificador com 1 litro de água e peneire. Jogue o suco no açúcar queimado e mexa até que dissolva por completo. Jogue a rodela de limão e sirva!

domingo, 14 de junho de 2009

"As comidas, para mim, são entidades oníricas". Rubem Alves


Na minha religião, chamada de Wicca, a abundância dos alimentos e a fertilidade da terra são celebrações constantes no calendário neo pagão. Saudar a entrada e a saída das estações do ano são parte das atividades mágicas dos wiccanos, com a finalidade de honrar e agradecer a fartura de cada colheita. O ciclo comemorado em oito festivais durante o ano narra o mito de vida, morte e renascimento da Deusa (terra) e seu consorte (sol). Para adeptos da Wicca a relação do praticante com o alimento é de gratidão e honra. Além disso a comida está sempre presente e em farta quantidade nas celebrações neo pagãs. Come-se para partilhar de um alimento que fora consagrado em honra aos deuses e para celebrar com a comunidade em momento de festa.

Dica de leitura !


“...o contato com a água, o fogo e os alimentos que se transformavam provocava também em mim uma transformação, para melhor. Manusear formas, cores e texturas, escolher cortes, lavar grãos e cuidar do fogo sob as panelas de pedra não era propriamente uma atividade externa, “fazer a comida”, porque de algum modo secreto e mágico era eu que estava sendo preparada.”


Sonia Hirsch

in: Meditando na cozinha - crônicas e receitas

Ed. Corre Cotia

Cozinha Mágica e Holística - parte 1



Você já percebeu que toda cozinha, independente de grande ou pequena, simples ou projetada, é sempre o espaço da casa onde todas as pessoas gostam de estar? Na maioria dos eventos em família e amigos é na cozinha que todos disputam um cantinho. Vale ficar em pé, encostado na pia, espremido pelas paredes, mas ninguém quer arredar o pé da cozinha. Esse cômodo da casa, privilegiado por ser o espaço da socialização guarda muitos segredos e magia.

Cozinhar é um ato mágico, dentre muitos outros que desempenhamos no cotidiano. Enquanto elaboramos um prato, a magia se inicia no plano mental quando, imaginamos nossos ingredientes com o formato final da receita escolhida. Em seguida, durante o preparo, tem início todo um processo alquímico capaz de transformar alimentos crus em cozidos e da união de todos ingredientes para a formação de um único produto final. Por isso cozinhar é mágico, mas podemos dar intenção ao trabalho na cozinha para que tal magia desempenhe uma finalidade ou um desejo específico.Para que essa magia seja consciente e intencional é preciso conhecer os principais atributos mágicos e simbólicos presentes na cozinha e seus ingredientes, além de prestar atenção em alguns padrões de atitudes que temos no momento que nos propomos a elaborar um prato. Cozinhar deve ser um ato de amor consciente, pois o alimento que manipulamos fica impregnado da energia que emitimos.

Alguns cuidados fazem diferença na hora que decidimos entrar na cozinha e preparar uma comida. Antes, de mais nada, é preciso ter a Intenção Mágica , o porque queremos cozinhar magicamente. Você pode preparar um prato para alegrar sua casa, harmonizar a energia dos seus familiares e a sua, trazer prosperidade, saúde, amor, sorte e muito mais. Vale lembrar que o fogo, como elemento da transformação é o principal condutor de energia e responsável por toda alquimia culinária, portanto, a conexão com o fogo é vital para o sucesso de sua receita mágica. Em seguida o espaço da cozinha deve ser limpo fisicamente e harmonizado, retirando o excesso de coisas inúteis e deixando apenas o essencial para o uso diário. É muito comum os autores enaltecerem a importância de cozinhas bem típicas de bruxas, com ervas penduradas pelas paredes, caldeirões imensos, e uma variedade incrível de utensílios mágicos. Nossa realidade sócio-econômica é determinante para a escolha de nossas moradias no Brasil. A maioria das pessoas vive em pequenas casas ou apartamentos, onde a cozinha é minúscula e mal comporta o básico. Portanto, devemos levar em consideração o bom senso. Todo espaço é mágico se a intenção é essa, mas o ideal é prestar atenção à alguns cuidados que farão diferença:


  • Só cozinhe se o seu estado emocional estiver equilibrado;
  • Determine a Intenção Mágica;
  • Busque as correspondências mágicas em ervas e temperos, levando em conta as fases da lua, os Planetas e Elementos correspondentes;
  • Preste atenção nos aromas, nas cores e texturas que irá usar;
  • Use o bom senso do seu paladar para misturar alimentos muito diversos: doce com salgado, azedo com ácido, etc.;
  • Pense sobre prá quem você está cozinhando: essa pessoa sabe sobre seu encantamento? Seja ético sempre.
  • Quem irá comer seu prato, pode comê-lo? Não sirva um prato gorduroso para quem está com o colesterol alto ou não ofereça doces para quem é diabético, etc.
  • No momento da refeição, honre todos alimentos que estão no seu prato;
  • Coma com tranqüilidade, deixando todos seus sentidos agirem em torno do prato;
  • Enquanto come, lembre-se da sua Intenção Mágica e visualize essa questão já consumada;
  • Ao encerrar sua refeição preocupe-se com a limpeza da cozinha e o destino dos restos alimentares e do lixo em geral – pense, por exemplo, em reciclar e economizar água na hora da lavagem.


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Origens do Bolo de Aniversário



Delicioso costume teve origem nas oferendas feitas aos deuses da Antiguidade

por Rodrigo Cavalcante

Celebrar uma data importante com direito a guloseimas tem sua provável origem nas festas de culto aos deuses da Antiguidade. Agradeça à deusa Ártemis, celebrada pelos gregos como a matrona da fertilidade, pelo aparecimento do bolo de aniversário. Ele é provavelmente a evolução de um preparado de mel e pão, no formato de uma lua, que fiéis levavam ao famoso templo em homenagem a ela em Éfeso, antiga colônia grega na atual Turquia.

Há especialistas que defendem outra teoria. Segundo ela, a tradição surgiu na Alemanha medieval, onde se costumava preparar uma massa de pão doce no formato do menino Jesus no Natal. Depois essa guloseima seria adaptada para a comemoração do aniversário de crianças.

Já o uso de velas também teria sido herdado do culto aos deuses antigos, que tinham a missão de levar, por meio da fumaça, os desejos e as preces dos fiéis até o céu, para que eles fossem atendidos.

Mas e as festas de aniversário? Até hoje, não se sabe a data exata de quando os nascimentos começaram a ser celebrados. Ainda nos dias atuais, a comemoração é um costume ocidental nem sempre seguido por outros povos. No Vietnã, por exemplo, os aniversários não são comemorados individualmente no dia do nascimento – e sim coletivamente, no ano-novo vietnamita, que segue o calendário lunar e acontece, em geral, entre os nossos 21 de janeiro e 9 de fevereiro.

Embora não saibam exatamente quando a tradição surgiu no Ocidente, os historiadores sabem que a festa já era conhecida na Antiguidade. “Os romanos não apenas comemoravam o dia do nascimento como tinham um nome para a festa: dies sollemnis natalis”, diz o historiador Pedro Paulo Funari, da Universidade Estadual de Campinas. “Há, por exemplo, um registro do século 2 em que uma cidadã chamada Cláudia Severa convida sua amiga Sulpícia Lepidina para a comemoração”, diz.

Outra tese que reforça a idéia de que foram os romanos os difusores dessa tradição é a existência de túmulos que registram com precisão o número de anos, meses e dias no sarcófago – o que indica que eles sabiam o dia exato do nascimento do sujeito. “Eles também comemoravam outros aniversários, como o da fundação de Roma, em 21 de abril”, diz Funari.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Gosto de infância

Esses dias eu estava recordando de alguns sabores que trouxeram prá minha infância um toque de algo especial e um pouco de magia. Eu sempre fui comilona, amante das coisas gostosas e desde criança minha mãe nunca me forçou a comer nada que eu não quisesse. Hoje eu vejo que ela sempre foi condescendente demais com o meu "refinado" paladar e que seu excesso de amor materno impediu-me de comer alimentos mais nutritivos na infância. Eu sempre achei que só tinha a lucrar com o estilo de mãe boazinha que permite a troca do prato de comida pelo chocolate. Lembrei também que por vezes ficava hospedada na casa da minha tia Guta, irmã da minha mãe e essa era linha dura com as crianças. Enquanto eu não terminava todo o prato de sopa ou comida que ela julgasse ser necessária, não teria como prêmio, a tão esperada sobremesa. Achava isso um saco e não via a hora de voltar para a liberdade comensal da minha casa, embora minha tia tenha sido uma ótima educadora e companheira.
São alguns ítens que ainda até hoje quando os vejo, sinto o cheiro ou eles simplesmente me vêem à memória, instantaneamente, recordo de quando eu era criança. Entre eles tem uma coisa que até hoje é consumida e a marca é a mesma:
Bolo Pullman: toda dia depois da escola, lá estava eu de frente a tv assistindo a mesma "Sessão da Tarde" de hoje, com um pratinho de bolo Pullman. Não importava o sabor, mas lembro que algumas vezes eu incrementava com umas boas colheradas de leite condensado por cima da fatia de bolo, ou então usava geléia de morango. Muito bom... me deu água na boca, rs!

Mandiopã: esse salgadinho fez parte da minha adolescência e muitas vezes minha mãe fritava aquela coisa que até hoje não sei do que é feito e recentemente achei no supermercado com o nome de Fritopan ou Fritopã.

Pesquisando na Wikipédia encontrei a mais correta descrição do negócio: " salgadinho feito a base de mandioca, alimento rico em amido. Tinha a fama de ser encharcado de óleo e fez muito sucesso no Brasil nas décadas de 80 e 90.

Mi Casita: Era um sanduíche de sorvete que comíamos apenas na férias de fim de ano em Poços de Caldas. O sabor desse sorvete com casquinha crocante de waffer é indescritível e descobri que ainda é comercializado lá em Poços. Era um sucesso absoluto prá mim, meu pai e minha mãe. Ele tinha gosto de festa, de passeio, de alegria, de lazer, do sair da rotina... e de tantas outras coisas boas. Sem dúvida era a maior sensação culinária dos passeios em Poços e só de pensar fico com água na boca e uma baita saudade desse tempinho. Meus pais eram mais jovens, mais felizes, mais saudáveis... Achei até o site deles: www.micasita.com.br

Refrigerantes: Gini e 7Up - aquele sabor era inconfundível.

Balas e doces: Soft, 7Belo, Goma, Juquinh
a, Paulistinha, Delicado, Gotas de Pinho Alabarda, pirulitos Dip'n lik, Mini Chicletes Adam's, Mentos e muito mais!

Na lancheira: Você que tem 40 ou mais consegue se lembrar com detalhes dos sabores da sua lancheira? Eu só lembro do cheiro de pão co
m bife a milanesa...hummmmmmm!!!!!!! Era o que tinha de melhor...rs! Minha mãe chamava um padeiro que todos dias batia na minha porta com uma cesta imensa de guloseimas e eu podia olhar tudo e escolher o que seria o meu lanche. Era bom demais, cada pão doce...





Imagens: www.images.google.com.br


domingo, 26 de abril de 2009

Sorvete e resfriado

Ontem, sábado não resisti a idéia de uma amiga e fomos ao Alaska tomar sorvete, mesmo estando resfriada. Já ouvi de tudo um pouco sobre essa famosa oposição: vírus e gelado. Desencanei e como a vontade foi dominadora, fartei-me numa taça de sorvete de chocolate, cobertura do mesmo sabor, farofa e muito chantilly. Viva a vontade realizada!

Pesquisando pela Net:


http://empresas.globo.com/Empresasenegocios/0,19125,ERA625348-2932,00.html

Desde crianças os brasileiros aprendem que sorvete dá resfriado e dor de garganta e só deve ser tomado no verão, com moderação. Tal mito tem feito com que o mercado de sorvetes brasileiro seja infinitamente menor que o de outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumo anual per capita de sorvete é de 30 litros, enquanto no Brasil é de 3,5 litros, quase dez vezes menor. Mesmo assim, o gosto pelo sorvete tem crescido. Há doze anos, o consumo anual não passava dos 800 mililitros por pessoa.

O sorvete pode ser considerado um alimento nutritivo, pois contém como seus ingredientes o grupo de macronutrientes que garantem uma alimentação saudável, tais como: os carboidratos, proteínas e gorduras, que são responsáveis pelo fornecimento de energia, além de diversos processos vitais.

Além disso, nos hospitais o sorvete vem sendo utilizado, especialmente em crianças com dificuldade de se alimentar e, por ser gelado, como ótimo analgésico, ajudando a evitar as náuseas causadas pelos tratamentos contra o câncer.

Muitos evitam esse alimento por considerarem que o sorvete é tão somente uma sobremesa muito calórica e para ser consumida somente no verão, mas o que a maioria não sabe é que quando comparada ao que costumamos consumir no dia a dia, o sorvete é a melhor opção, não só para refrescar do calor dos dias quentes mas também para melhorar o valor nutricional das pequenas refeições.

Não é pra menos que o sorvete até ganhou um dia. 23 de setembro é o dia nacional do sorvete. A data foi escolhida pela ABIS – Associação Brasileira das Indústrias de Sorvetes, bem no início da primavera, época de temperaturas altas no ano.
Porém, não só no calor o sorvete pode ser saboreado. No Brasil, criou-se o mito de que tomar sorvete no frio faz mal. Segundo Eduardo Weisberg, presidente da ABIS, a causa dessa diferença de consumo nos países é cultural. “Os brasileiros são educados a acreditar que tomar sorvete no inverno faz mal, provoca gripes e resfriados. É uma idéia falsa, pois o tempo mais frio não impede o consumo e tampouco provoca qualquer mal à saúde. O setor de sorvetes no Brasil tem capacidade de atender o mercado durante o ano todo da mesma forma que atende no verão”.

A nutricionista Elizabeth Vargas, do grupo Unilever, responsável pela marca Kibon, confirma que “não existe comprovação científica que evidencie que o sorvete faz mal no frio”.

O que acontece, afirma a nutricionista, é que em muitos casos as pessoas deixam de consumir frutas cítricas e ficam expostas a doenças, e sabe-se lá por qual razão, associam o agravamento do sintoma ao sorvete.

Serviço: Sorveteria Alaska: R. Dr. Rafael de Barros, 70 - Paraíso - S.P.


Fotos:
Aglaia Madora
Chico Scalante

domingo, 12 de abril de 2009

Sabores da Páscoa



Essa Páscoa vai ficar na história, ao menos prá mim. Pela primeiríssima vez fiz um bacalhau. Não tinha nem idéia de como era todo o processo, como comprar, o que comprar, onde comprar e o que fazer com ele. Os amigos ajudaram bastante, o Ivan deu todas dicas pelo Orkut e a Irma deu a receita tradicional da família dela: bacalhau do Porto ao forno. Eu apenas dei um toque pessoal, acrescentando os pimentões e o manjericão. Até fiz questão de comprar azeite extra virgem pois, a ocasião merecia tudo do melhor. No fim deu tudo certo, o sal ficou no ponto certo, o sabor também. Se não fosse meu pai reclamar (como sempre) tudo estaria perfeito. O prato em si não tem nenhuma novidade, o bacalhau foi assado com batatas, tomate, pimentão, azeitonas e temperado com salsa, cebolinha, cebola, alho e manjericão. Adoro o aroma do manjericão, toda magia culinária deveria passar pelo manjericão. Parece que todo feriado (religioso) carrega em si um sabor já conhecido: o peru do Natal, o bacalhau da Semana Santa, e por aí vai, mas eu senti que essa Páscoa teve um gosto diferente. Foi o gostinho do "eu que fiz" e ficou bom. E reunidos à mesa, eu e meus pais que já estão velhinhos pudemos celebrar mais um Renascimento, não apenas do Cristo que eles cultuam, mas da magia que vem dos prazeres da família em torno da mesa farta. Eu também percebi o quanto o processo dessa Páscoa foi mágico prá mim, em cada tarefa que executei, que foi desde idealizar o bacalhau que minha mãe tanto desejava, ao comprar os ítens prá cesta de guloseimas que fiz prá eles. Prá nós Pagãos, a Páscoa é chamada de Ostara e celebrada no hemisfério Norte em comemoração a Primavera e sua esperança de renascimento na natureza. Para nós do outro lado, a mesma celebração se dá em setembro. E foi tudo tão demorado em acontecer, desde que comprei o bacalhau até chegar o dia de degusta-lo parece ter passado tanto tempo e o tempo em que vi o prato quase findado foi tão pequeno. Essa é mais uma etapa da magia, da relação do tempo e espaço na gastronomia. Preparar pode ser muito demorado, mas saborear, saciar é tão rápido. Feliz Páscoa, Feliz Ostara e que no ano que vem eu possa fazer tudo de novo, com o mesmo ânimo e amor!

Fotos: Aglaia Madora

terça-feira, 7 de abril de 2009

Culinária em Itacaré - Bahia


Itacaré - Sul da Bahia, Costa do Cacau...

A rua central de Itacaré, conhecida como Rua da Pituba (embora o seu nome seja outro), é conhecida por seus inúmeros restaurantes, bares, lojas e serviços em geral. O estilo gastronômico é bastante variado, indo da comida por quilo que, mistura peixes, carnes e aves até a comida árabe e vegetariana. Ainda é possível comer pizza, sanduíches, crepes e pastel. Eu posso dizer que comi muito bem por lá... passei 10 dias sem comer carne de vaca, me deliciando com camarão, peixes e siri. Uma bela moqueca mista de peixe com camarão, é a minha dica: Restaurante Berimbau. É bem servida, dá para 3 pessoas comerem bem e o lugar é tudo de bom. Além disso, não poderia deixar de indicar o Falafel Sahara, reduto dos turistas israelenses com a melhor comida árabe que já provei. Tudo vegetariano, mas incrivelmente bem apresentado, com porções bem generosas e claro, muito sabor. Por incrível que pareça não é caro, o lugar é bonito, descolado mas, não aceita cartões de crédito. Na foto acima, o prato que comi no Espaço Brasil que, embora muito atraente, sua estética não condiz com o sabor... faltou algo, uma pena, o lugar é bem gostoso. Não poderia encerrrar sem falar algo sobre a Creperia do Tio Gu: os crepes são tão maravilhosos quanto os donos. Comi um de camarão com catupiry e um de nucita, nem preciso dizer o quanto eu gostei. Também comi na Casa de Taipa, comida por quilo que, embora seja caro, a comida é bem variada e gostosa. Na minha última noite, por indicação de uma amiga que mora em Itacaré, fomos a Tapiocaria Bem Bahia e comi a melhor farofa da minha vida, feita com côco e carne de sol. Nunca tinha provado isso e acho que só lá conseguem fazer. Outro dia vi uma matéria na tv sobre os benefícios do cacau no controle da hipertensão e entendi o motivo de tanta disposição e energia que desfrutei em Itacaré. Claro que, a magia do lugar e o contato privilegiado com a natureza também foram fatores de bem estar, mas percebi que tomava muitos copos de suco de cacau durante o dia. Por falar em magia e boa comida, Itacaré é um excelente exemplo de como as duas categorias andam juntas. A região é toda encantada, misteriosa e ao mesmo tempo de uma beleza explícita. Ainda ficou muita coisa prá trás, muitos restaurantes e sabores que não tive oportunidade de provar e por isso, serei forçada à voltar.

Fotos: Aglaia Madora

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cinema, comida e paixão.



Filme: Sem Reservas

Comparações à parte, esse remake consegue emocionar. Vale a pena ver as duas versões. A primeira - "Simplesmente Martha", produção alemã de 2001 e a segunda, mais recente, "Sem Reservas", com Catherina Zeta Jones no papel da chef bem sucedida e de um comportamento bastante conservador. A gastronomia é mais que um subterfúgio cênico: é parte fundamental do romance e acaba transformando-se em personagem nos dois filmes. Tudo isso sem falar na menina Zoe, e a atuação brilhante da mini atriz, Abigail Breslin ( Pequena Miss Sunshine). Um convite à diversão, ao romantismo, ao bom humor e claro, à gula.

Sem Reservas ( No Reservations)
EUA, 2007
Comédia
Direção: Scott Hicks
Elenco: Catherina Zeta Jones, Aaron Eckhart, Abigail Breslin, Patricia Clarson.

Simplesmente Martha (Bella Martha)
Alemanhã, 2001
Comédia
Direção: Sandra Nettelbeck
Elenco: Matina Gedeck, Sergio Casttellito, Maxime Foerste.

http://wwws.br.warnerbros.com/noreservations/



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Magia das Ervas

Ervas podem ser usadas como temperos, realçando o sabor dos pratos, trazendo requinte e sofisticação. Podem também ser usadas como remédio, nos conhecidos chás das nossas avós, grandes bruxas naturais. Magia e ervas sempre foram uma excelente combinação e eu diria ser improvável a eficácia de muitos encantamentos sem o uso adequado da plantinha certa. Porém, usar ervas aromáticas não é tarefa tão simples...não basta um pouquinho de alecrim aqui ou um manjericão acolá. A arte das ervas é bastante complexa e exige conhecimento e bom senso. Carregar no coentro ou cominho pode ser um verdadeiro desastre no final da receita. Certas ervas possuem um sabor muito acentuado e acabam por roubar o sabor das massas ou carnes. As verdinhas devem aparecer com uma certa discrição, provocando apenas um charme. Muito em breve vou postar as propriedades mágicas de algumas das ervas mais usadas na magia e que são encontradas com facilidade. Por hora, indico um livro que vem a calhar como assunto: "As ervas na cozinha" de Rosy Bornhausen, Bei Comunicação, 1998. Espero que gostem.

Gastronomia é comer olhando prô céu.
Millor Fernandes.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A felicidade raramente tem ligação com um estômago vazio. Provérbio Japonês

Comer é essencial à todo ser humano. Não desenvolvemos nossas faculdades mentais, intelectuais, além de nossas atividades sociais se não tivermos uma alimentação saudável e balanceada. Já nascemos dependendo da comida e através de uma dádiva materna somos alimentados desde os primeiros instantes da vida.
Todas pessoas comem, o que as difere é o que comem. A comensalidade é natural em todos os grupos sociais mas a forma como cada um come e elege seu alimento é cultural. É a cultura que determina através, por exemplo, da religião e suas interdições alimentares o que deve ou não ser comido. Outro mecanismo social que interfere na hora da escolha alimentar de diferentes grupos, é a mídia que com seu apelo induz ao consumo de determinados alimentos. No Brasil pensando em termos culturais cada região tem uma hábito alimentar diferenciado. Somos vários "países" num único e muitos pratos e estilos alimentares, porém com o estímulo da mídia somos capazes muitas vezes de abdicar de nossos hábitos culturais e ceder ao estímulo visual de uma campanha publicitária que mostra os prazeres de um "fast food", por exemplo. Embora estejamos acostumados a comer determinados alimentos, ceder ao desejo e deliciar-se com um sanduíche novo, mostra que assim como a cultura, a mídia também é coercitiva e influencia na escolha alimentar, sendo responsável até mesmo por criar sincretismos alimentares. É possível dizer que as sociedades modernas e industrializadas são mobilizadas em torno da gastronomia e nossa relação com a comida ainda comanda boa parte da atenção de governos, da mídia, da comunidade científica e de outras instituições.
O consumo de um suculento hambúrguer, com imagem veiculada constantemente pela mídia é capaz de aquecer um determinado mercado financeiro, além de provocar milhares de processos biológicos e psicológicos no nosso corpo. Por isso é necessário que estejamos atentos às nossas escolhas alimentares para não causarmos danos na qualidade de vida que desejamos e na nossa saúde.Quanto melhor comermos, mais poderemos viver.